Quando falamos em relacionamentos, geralmente pensamos no amor, na convivência e nos conflitos que surgem no contato com o outro. Mas, na perspectiva psicanalítica, os relacionamentos são muito mais do que isso: eles revelam partes profundas de nós mesmos — desejos, repetições, feridas e fantasias que muitas vezes desconhecemos.
Por que escolhemos certos parceiros? Por que repetimos padrões que nos fazem sofrer, mesmo quando tentamos fazer diferente? Por que tantas vezes nos sentimos sozinhos mesmo estando acompanhados?
A psicanálise entende que essas dinâmicas não são acidentais. Muitas vezes, buscamos no outro algo que nos falta — ou melhor, algo que acreditamos que nos falta. Projetamos, transferimos, exigimos. E, sem perceber, reeditamos no presente experiências do passado, especialmente da infância, onde se formaram nossas primeiras referências de amor, cuidado, abandono e frustração.
Em análise, começamos a perceber esses mecanismos. Entendemos que, antes de sermos “vítimas do outro”, somos muitas vezes reféns de nós mesmos — de nossas defesas, medos e repetições inconscientes. A partir disso, é possível abrir espaço para novas formas de se relacionar, mais livres e menos determinadas pelo passado.
Se você sente que seus relacionamentos — afetivos, familiares ou profissionais — seguem roteiros parecidos, se há angústia, confusão ou sofrimento recorrente, a psicanálise pode ser um caminho de escuta e transformação. Não se trata de mudar o outro, mas de se conhecer a ponto de entender o que o outro representa para você.
Relacionar-se com o outro é também se confrontar com aquilo que desconhecemos em nós. E talvez por isso, como dizia Lacan, “amar é dar o que não se tem a alguém que não o quer”. Uma frase desconcertante, mas que nos convida a sair da idealização para descobrir o real — em nós e no outro.